segunda-feira, 18 de abril de 2011

Virei Jornalista'

Ok, tudo certo, é isto mesmo que quero ser: jornalista! Tudo bem mãe, eu trabalho o dia todo e vou pra faculdade como qualquer pessoa. Primeiro tempo na faculdade: o que é isto tudo que eles estão falando? Não estou entendendo nada (vale lembrar que raramente eu entendo o que as pessoas falam). Segundo tempo: Ah, tudo bem, aula de artes e psicologia é bem bacana. Sabe mãe, estou amando estudar jornalismo. Aula de TV, rádio e fotografia. Caramba é tudo tão legal, Comunicação Social entope meus olhos de lágrimas felizes. No terceiro e último tempo eu só queria terminar logo aquele sonho infame. Agora posso ser qualquer coisa, posso fazer mil e uma perguntas sem ser confundida apenas com uma curiosa, eu sou jornalista, ora bolas. E vou mudar o mundo, e vou construir justiça em cima de justiça até criar um muro tão alto e justo onde as porcarias vão ficar todas separadas de um lado. E eu estarei lá no alto, junto de outros super-heróis tirando a poeira das mãos.
Virei mesmo jornalista. Comecei a comer papel, respirar papel, sonhar com papel. Matéria policial, política, esportes e saúde. Fotos de gente sorrindo para as sociais. Fotos de gente tomando injeção. Foto de gente com faca enfiada na cabeça pra capa pra vender mais jornal. Cadê a minha saúde que eu nunca mais almocei em casa? Cadê a minha sensibilidade além da máquina fotográfica? Nunca mais dormir oito horas. Nunca mais sonhar com qualquer coisa que não seja o trabalho. Nunca mais tempo para gastar fazendo nada, nunca mais a minha opinião valendo alguma coisa. E não mãe, este papo de imparcialidade só existe no pensamento dos jornalistas recém-formados. Eu virei um fantoche mãe. Um veículo humano utilizado pra passar para o papel opiniões forçadas que não são minhas e enfiar nas pessoas conceitos programados para atingir um objetivo que beneficiará qualquer coisa, menos a mim.
Eu amo escrever mãe, mas eu detesto ser ‘a jornalista’. Quero a verdadeira liberdade de expressão da minha alma. Quero sucumbir de alegria. Quero o fim do faroeste e da guerra fria com a oposição. Quero contar histórias de gente que nasce. De gente que casa e vai embora pra outro país. Quero contar das cartas intermináveis de amores intermináveis. Quero fazer propaganda de balão, asa-delta, nuvem. Distribuir pelas ruas notícias boas e não vender mais idéias, nem ideais. Quero vender mais barato a alegria nas bancas. Mas é sempre assim, passo o dia todo comendo papel. E quando deito antes de dormir, quero acordar sendo qualquer outra coisa.


PS: Escrito por:  Cáh vi qu me identifiquei com o texto e decidi publicar, óbvio com os créditos merecedores da Cáh ♥ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário